terça-feira, 5 de março de 2013

Cordel encantado

 
Cordel é um gênero literário popular escrito de forma rimada, originado dos relatos orais e depois impressos em folhetos. O nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal. No Nordeste do Brasil o nome foi herdado, mas a tradição do barbante não se perpetuou: o folheto brasileiro pode ou não estar exposto em barbantes. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, também usadas nas capas.
As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores.
 
Abaixo segue um curta que mostra como são feitas as xilogravuras e o cordel "A moça que dançou depois de morta".
 

 

segunda-feira, 4 de março de 2013

A gente se acostuma, mas não devia..

Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(1972)

Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O que mais cai no Enem de Português?

O ENEM se aproxima e é bom focar em alguns tópicos de Português. Veja o TOP 5:


1º lugar - Interpretação de texto



A famosa interpretação de texto. A razão pela qual ela é tão cobrada é simples. Num país em que mais da metade da população é analfabeta funcional, o exame nacional precisa cobrar esta competência do aluno. Além disso, a prova torna-se menos decorativa e mais lógica, privilegiando quem pensa e não quem decora. Entretanto, não pense que estas questões serão sempre pontos garantidos. Depois de horas de prova, o cansaço prejudica o entendimento textual. Além disso, a vivência e maturidade são qualidades testadas com esse tipo de questão. Portanto, deixe de lado o nervosismo e pense logicamente ao responder este tipo pergunta. Aja como um adulto, é isso que o Enem está demandando de você.

2º lugar - Modernismo

 
Modernismo inclui não só o movimento, mas todos os poetas e escritores que fazem parte dele. Frequentemente, disponibilizamos conteúdo sobre este assunto: Semana de Arte Moderna, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira são artistas sobre os quais você poder ler e garantir alguma questão do Enem de 2012. Uma promessa para este ano é Jorge Amado, já que em 2012 comemora-se seu centenário de nascimento. Fique ligado no portal para mais conteúdos modernistas!
 

3º lugar - Outros tipos de interpretação

 
Tudo o que foi dito em interpretação de texto, obviamente, vale para este tópico. Mas aqui fala-se de interpretação de charges, publicidades, poemas, músicas, infográficos, gráficos e crônicas. Aqui está mais uma prova de que o Enem é basicamente interpretativo. Ou seja, quem souber ler e estiver calmo tem um terço da prova de português do Enem garantida.
 

4º lugar - Gramática


A gramática era um assunto recorrente dos vestibulares em geral. Antes, ela caía assim: "esta frase é coordenada ou subordinada?". Agora, cai diluída em perguntas de interpretação de texto e não tão diretamente. Esta mudança fez com que muitos erroneamente pensassem que ela está extinta dos vestibulares. Mas ela não está. Fique atento a assuntos como figuras de linguagem, pronomes, colocação pronominal, vocativo, aposto, artigo, cojunção e o novo acordo ortográfico.
 

5º lugar - Variação linguística

 
A variação linguística é uma matéria pouco estudada na escola e relativamente recente no estudo pré-universitário. Há quatro tipos de variações linguísticas: a história, geográfica, a sociocultural e situacional. A história, como o próprio nome diz, são as variações pelas quais uma língua passou ao longo de sua história. Por exemplo: antes de ser o que é hoje, o pronome "você" variou de "vossa mercê", "vossemecê", "vosmecê", "vancê". A variação geográfica se dá quando a língua varia de um lugar para outro. Por exemplo: no Brasil, falamos banheiro e em Portugal, casa de banho.
A sociocultural é realçada mais ainda no Brasil, um país de grande desigualdade. Dependendo da posição social e cultural de alguém, fala-se diferente. Ou seja, é claro que um vendedor de bananas fala a se expressa distintamente de um doutor em Letras. É provável que a pessoa mais estudada fale com um vocabulário mais amplo, respeitando mais as regras gramaticais, entre outros. Por fim, a última variação é a situacional.
Falamos diferentemente em diversas situações. Uma pessoa normal fala de certa forma com um professor, com seu chefe, com sua namorada, com sua mãe. Mesmo que seja um vendedor de bananas, sem nenhum estudo, ele mudará seu registro para falar com alguma autoridade - ainda que ele não esteja falando de acordo com as regras gramaticais vigentes em um certo país. A variação linguística mais cobrada no Enem é a geográfica.
 

6º lugar - Funções da linguagem

 
Embora tenha caído pouco nos 13 anos, a tendência é que ele seja mais cobrado ao longo dos anos. A evolução percentual da matéria foi crescente. Portanto, é um assunto provável de ser cada vez mais demandado. Existem seis funções da linguagem:
  • A primeira é a emotiva, função que destaca a o emissor. Esta mensagem centra-se nas opiniões, sentimentos e emoções do emissor; é um texto subjetivo e pessoal e escrito na 1ª pessoa do singular.
  • A segunda função é a referencial, cujas características são: neutralidade do emissor, objetividade e precisão e uso da 3ª pessoa do singular.
  • A terceira é a função apelativa, em que a mensagem é centrada no receptor. Normalmente, usa-se 2ª pessoa do singular ou plural nesta situação.
  • A função fática é a quarta da lista: ela serve para transmitir o interesse do emissor em testar ou chamar atenção ao próprio canal da comunicação. Vulgarmente falando, é quando dizemos: "hein", "né", "alô", "hum", "ei", etc.
  • A quinta função da linguagem é a poética, aquela que põe em evidência a forma da mensagem, que se preocupa mais em "como dizer" do que com "o que dizer". Suas características são: subjetividade, uso de figuras de linguagem e brincadeiras com o código. A última função é a metalinguística. Caracterizada pela preocupação com o código, este emprego linguístico pode ser definido como a linguagem que fala da própria linguagem.



sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Café Literário!

Venha aí a segunda edição do Café Literário do Ressurreição!

Citações sobre Leitura

"A leitura é uma porta aberta para um mundo de descobertas sem fim".
Sandro Costa

"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem".
Mario Quintana

"A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil, e o escrever dá-lhe precisão".
Francis Bacon

"A paixão da leitura é a mais inocente, aprazível e a menos dispendiosa".
Marquês de Maricá

"A leitura reaviva a memória e nos coloca a par do desconhecido".
Orlando R. Almeida

"Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltará".
Cícero

"Há aqueles que não podem imaginar o mundo sem pássaros;
Há aqueles que não podem imaginar o mundo sem água;
Ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros".
Jorge Luis Borges

"Um livro e como uma janela. Quem não o lê, é como alguém que ficou distante da janela e só pode ver uma pequena parte da paisagem".
Kahlil Gibran

"Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies".
Machado Assis

"A leitura engrandece a alma".
Voltaire

"Dupla delícia! O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado".
Mário Quintana

"A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede".
Carlos Drummond de Andrade

"A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde".
André Maurois

"Livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas".
Mario Quintana

"Os livros são o tesouro precioso do mundo e a digna herança das gerações e nações".
Henry David Thoreau

"O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes".
Cora Coralina

Para encerrar, um poema de Machado!

Livros e flores

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Machado de Assis

Anatomia do leitor